Seria uma questão meramente de comportamento? Neste caso todo o indivíduo seria considerado normal até repentinamente tomar uma atitude real, concreta, que causasse dano a terceiros ou algum patrimônio. Aí finalmente ele seria louco e nocivo.

Mas será que nada precede essa “ação concreta” ?

Ameaças?  Certamente.  Discursos de ódio? Seria típico. Manifestos ? (Esses geralmente representam uma entidade ou organização). E Infelizmente tudo isso esteve ainda que abstratamente presente se tratando do cidadão Francisco Wanderley Luiz, o Tiu França.

A polícia Federal do Brasil tinha informações o bastante para concluir que o ataque do dia 13/11/2024 foi premeditado, motivado por causa política e abertamente anunciado em redes socais pelo autor.


O ÚLTIMO CASO DE TERRORISMO:

Duas explosões aconteceram na noite de quarta-feira (13/11) nas proximidades do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, deixando uma pessoa morta.

A PF investiga as explosões na praça dos Três Poderes como ato terrorista. Na manhã desta quinta-feira (14/11), o diretor-geral da PF Andrei Passos Rodrigues afirmou que o episódio não é um fato isolado, mas conectado com várias outras ações que já são apuradas em outras investigações.

Um boletim de ocorrência da Polícia Civil do Distrito Federal identificou o homem que morreu como Francisco Wanderley Luiz. Ele próprio lançou artefatos em direção ao STF, segundo as investigações, e depois se deitou sobre um explosivo, que foi detonado.

• BBC (https://www.bbc.com/portuguese/articles/c8xp9l4qxxjo)
  

ENTÃO…SERIA O TIU FRANÇA UM TERRORISTA?

Ele poderia ser enquadrado dessa forma? Qual o nosso entendimento para ato terrorista?

No dicionário: “Quem se utiliza da violência para atingir objetivos políticos, geralmente praticando atentados para desorganizar uma sociedade, buscando o poder.”

Na lei (LEI Nº 13.260, DE 16 DE MARÇO DE 2016.): “Usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa.

Perceba, na lei, o simples ato de “ameaçar” causar os danos supracitados, já é considerado uma atividade terrorista.

Mas esse cidadão já havia ameaçado publicamente, e constantemente, atacado a democracia do país, o processo eleitoral, o governo, e os juízes… Críticas sempre foram feitas, mas onde e quando, expressar uma crítica/opinião é uma linha tênue para um atentado à democracia e como isso evolui tão rápido para um atentado terrorista?

– Quando os ataques à democracia se mostraram a única estratégia restante de perpetuação de poder por parte do ex presidente Jair Bolsonaro ( que vinha com expectativa de perder a eleição) suas opiniões e atitudes tomaram uma forma mais poderosa e cada vez mais radical. Capaz de até o seu silêncio bagunçar o tecido social, desmanchar a ordem, e tornar um momento propício para um regime autoritário.

Para quem não se lembra, foi assim após as eleições de 2023. Logo após o resultado, Jair Bolsonaro ficou calado, adotou um completo silêncio (tanto publicamente ,quanto virtualmente) sem uma mensagem sequer reconhecendo a vitória do seu oponente, Luis Inácio Lula da Silva.  O resultado? Quase todas as rodovias do País foram fechadas por caminhoneiros. Estradas paradas, incêndios de veículos, e cada vez uma concentração maior de pessoas nos quartéis generais que mantinham a esperança (ou loucura) de que a eleição seria anulada, Lula não subiria a rampa do Planalto, o Exército iria prender Alexandre de Morais, seria declarado “estado de sítio” , essas e outras mentiras vinham aquecendo as redes sociais bolsonaristas até os acontecimentos dos dia 08/01/2023.

Na situação em questão foram presos terroristas. Pessoas, que organizadas, foram financiadas, custeadas e transportadas para com uso da violência,  depredar o patrimônio público, invadir o congresso e causar convulsão social. (No que foi a versão brasileira da “Invasão do Capitólio”). Porém o caos esperado não foi o bastante para as instituições do país e suas autoridades cederem para que o caminho “ficasse livre” para o autoritarismo, este que sequestra a sociedade nos seus momentos de fraqueza.

Perceba, a parte assustadora é que; ainda que o maior beneficiário do golpe fosse Bolsonaro, este, após perder a eleição, não convocou seus apoiadores publicamente para uma tomada de poder (como todos imaginavam, até os próprios apoiadores aguardavam).

Ele deu o silêncio. E o silêncio bastou.

Onde faltam palavras, mentes que já não estão tão vazias…Cospem o veneno depositado ali durante todo o período eleitoral (Para a atual direita brasileira, esse é um período permanente, transpondo até as obrigações do mandato. O foco não é fazer política pública, é contrariar a “esquerda” e o PT).

Onde não se fecham lacunas, as pessoas e suas próprias loucuras, preenchem.

Nesse plano maquiavélico de promover o caos para tomar o poder, pessoas de “ficha” ilibada foram presas, idosos, senhoras (não que não sejam pessoas incapazes de fazer algum mal, como no caso mais recente) O que eles tinham para se tornarem tão propícios a esse movimento?

Como o Bolsonarismo conseguiu transformar essas pessoas em soldados? Soldados guiados até pelo silêncio! ?

Talvez, não seja o silêncio…Eles são guiados pelas vozes…

Você já ouviu falar da comunidade QANON? Se não, você precisa conhecer…

https://g1.globo.com/mundo/eleicoes-nos-eua/2020/noticia/2020/08/26/o-que-e-qanon-o-movimento-conspiracionista-a-favor-de-trump-que-e-visto-pelo-fbi-como-ameaca.ghtml

O que é o QAnon, teoria da conspiração que vê Trump como caçador de pedófilos: https://www.youtube.com/watch?v=yyWCPhR7fbM

‘Minha mãe põe minha vida em risco’: as famílias destroçadas pelo QAnon:  https://www.youtube.com/watch?v=Oy-sYhR3kcw

saiba que em grande maioria foram eles que invadiram o Capitólio. Isso os faz equivalente a Bolsonarismo?

Não somente isso…São iguais quase em tudo, e servem a mesma finalidade (para terceiros). 

Compartilham da conspiração, da loucura, da desconfiança do governo e de todos os agentes midiáticos, das fontes de informação. Suas bases morais são calcadas em pessoas “extremamente” cristãs (ou hipocritamente), que acreditam que tudo é uma questão de narrativa.

Notícias escandalosas (da qual eles não duvidam) tomam o inconsciente de um ser desinformado. Sem qualquer tato social. As pessoas mais isoladas, são mais suscetíveis a se tornarem QANON. E para isso, despertam nelas constantemente um “temor social”, um eminente risco de colapso. Nos Estados Unidos, é comum as pessoas terem bunkers, armas estocadas, depósitos, esperando (como uma certeza eminente) o colapso da sociedade deles. Sentimento que é alimentando com cada conspiração (as vezes apenas uma sugestão de conspiração) publicada e lida em seus smartphones.

“Na solidão de uma tarde, no conforto de um sofá, Dona Dona Fátima Tubarão recebia conteúdo político 24h por dia. Pessoas que, na sua faixa etária (geralmente aposentadas) já não possuem em prática diária todas as suas faculdades mentais. Reféns das profundas transformações sociais que aconteceram tão rápidamente e transformaram como consumimos informação. E ao final de 4 anos (término de um mandato), Dona Maria Tubarão estava sendo presa por terrorismo em Brasília. Junto aos golpistas do 08/01.”

O fenômeno dessa “desconfiança de tudo” se intensifica quando a figura do poder executivo é encabeçada por alguém da oposição. E em casos onde a direita encabeça o executivo, o “fim dos tempos” é representado em qualquer “adversário” , pessoa ou instituição, que realiza manifestações que são consideradas “danosas” ao governo, à figura do seu líder ou ao seu projeto de poder. 

QANON e BOLSONARISTAS tiveram um papel crucial e similar durante a PANDEMIA DO CORONAVÍRUS. Ambos espalharam e acreditavam (quase com fé ²) em “Fake News”. São movimentos completamente negacionistas, uma vez que vivem alimentando mais desconfiança na mídia ou na ciência.

Arrisco dizer que até hoje há bolsonaristas torcendo para que aconteçam em massa os “efeitos colaterais” da vacina. 

Mas quantas vítimas o negacionismo trouxe ao Brasil? mais 800 mil.
Quantas vítimas, policiais  foram agredidos no 08/01/2023?

Quantas pessoas podiam ter se ferido ou morrido com o atentado a bomba no aeroporto de Brasília?

Quantas pessoas Hélio Bispo podia ter ferido na saída do STF?

Quantos familiares, romperam seus contatos por conta de “política”, ou porque insistiram na defesa aberta de “opiniões nocivas”, que flertam com o racismo, misoginia e homofobia. Crimes normalizadas como opiniões.

A nocividade das pessoas já estava no discurso, os ataques à democracia, ensaiados Os ataques terroristas? Era apenas dar um passo.

Dependia de um sinal.

E particularmente agradeço ao Bolsonaro por ter tido coragem de ter dado o “sinal” público, uma ordem direta, a “permissão” que seus eleitores queriam para começar um caos social…

As meias palavras, as metáforas…Recurso de quem queria algo sem se expor.

É natural que você alimente dúvidas, para isso as pessoas apuram. O problema hoje é que essas pessoas só confiam em canais alternativos que digam o que eles se identificam.  Uma segmentação de conteúdo muito exata, uma bolha informacional que é confortável e só  beneficia seus discuros, um fenômeno assim, que de forma contínua, se torna um potente modulador social.

Se eles conseguiram associar do mesmo lado: Jesus Cristo, Armas, Milicianos e bilionários do agronegócio…

A “engenharia” social foi muito boa. Obra de profissionais.

– Correspondente F.M.G